Conquistas, legado e gratidão: a despedida de Eder Popiolski do futsal feminino

Fotos: arquivo
O fim de um ciclo. É como o técnico Eder Popiolski define sua despedida das quadras de futsal. Foram mais de 20 anos dedicados ao futsal feminino em Chapecó, marcados por conquistas históricas e um grande legado ao município como celeiro de atletas.

Popiolski afirma que vinha amadurecendo a ideia desde o final de 2018. “Por questões econômicas do projeto, me mantive voluntariamente para que o trabalho de tantos anos não fosse interrompido, e assim pudéssemos organizar uma transição”, garante.

Quem dará sequência ao trabalho no comando da Female Futsal/Unochapecó/PMC são os professores Rosilene Marques (Paca) e Jônatas Amaral de Oliveira (Jimmy), que já possuem experiência no clube e suas funções, e darão sequência no treinamento e competições das equipes adulta e de base a partir de agora.

HISTÓRIA

A carreira do técnico Eder Popiolski pode ser dividida em algumas etapas. A trajetória teve início por volta de 1999, quando começou a colaborar nos treinamentos e jogos na equipe amadora de futsal feminino idealizada liderada por sua mãe, a dona Catarina Reatto Popiolski.

Então acadêmico do curso de Educação Física na Unochapecó, Eder foi incorporando novas rotinas com a equipe e ampliando os horizontes das competições. “Foi um início de dedicação do tempo livre que serviu de muito aprendizado. Estar nas quadras de futsal feminino foi meu grande campo de estágio na época”, lembra.

Neste primeiro momento, a equipe passou a disputar competições no estado e no Brasil. A equipe, formada por atletas genuinamente de Chapecó, conquistou um tricampeonato catarinense (2001/2002/2003) e começou a representar Santa Catarina na Taça Brasil, uma das competições de maior importância até hoje no futsal feminino.

Superando expectativas, as meninas chapecoenses chegaram a um honroso terceiro lugar do certame, em 2003, disputado em Belém/PA. “Foi sensacional, pois fomos com apenas oito atletas de Chapecó, e muito jovens. Tivemos que obter uma concessão especial da CBFS para poder colocar meninas de 15 anos para jogar”, diz Eder.

EVOLUÇÃO
Impulsionados por esse bom início, com a inclusão do futsal feminino às competições da Fesporte e a migração das atletas, o cenário da modalidade passa a ser outro. O clube, então denominado Popiolski Futebol Clube, já se destacava pelo foco na formação de atletas, mas passou a sofrer algumas baixas no elenco e viu a necessidade de reestruturar o projeto para buscar reforços.

A competição em Santa Catarina acirrou sobremaneira, provocando um salto na modalidade, que passa a deixar o aspecto amador e ganhar características de profissional. Popiolski, indo além da função de treinador, conseguiu parcerias para seguir com equipes competitivas, tanto na base como no adulto.

O futsal feminino de Chapecó passou a retornar de competições com a bagagem mais pesada. “Foi um orgulho muito grande conquistar o primeiro JASC e o primeiro Joguinhos Abertos da história, em 2003. Em 2005, já obtivemos o vice da Taça Brasil, em Campo Grande/MS, e em 2007 aconteceu minha primeira conquista nacional, nos Jogos Abertos Brasileiros, em Praia Grande/SP”, recorda Eder.

Mas o grande momento do futsal feminino de Chapecó ainda estava prestes a acontecer. A partir de 2008, o projeto se tornou uma potência na modalidade e conquistas sucessivas, em larga escala, aconteceram. A hegemonia no período culminou com três títulos do Mundial de Clubes (2009/2010/2011), da Taça Libertadores (2012), de seis Ligas Nacionais (2008/2009/2010/2011/2012/2013), de quadro edições da Taça Brasil (2009/2010/2011/2012), além de JABs, JUBs, JASCs, Catarinenses e outras competições.

“Neste período, a Female se tornou a grande referência internacional da modalidade por produzir um jogo competitivo, intenso e inteligente. Creio que muito da forma como o futsal feminino é jogado hoje pelas equipes no Brasil e no mundo deve-se à maneira de como jogamos”, conforme o treinador.
           
RENOME

O trabalho destacado como técnico projetou Popiolski para comandar Seleções Brasileiras. Pela Universitária, liderou a equipe por quatro mundiais com títulos em todas as participações: Sérvia (2010), Portugal (2012), Espanha (2014) e Brasil (2016). Foi, também, o treinador da Seleção Brasileira principal no Mundial da Costa Rica (2014), também sagrando-se campeão naquela oportunidade.

Já em 2015, passou a residir em Joinville/SC, ainda colaborando na parte administrativa da Female Futsal, e agora presando assessoria técnica para o início do projeto da equipe Leoas da Serra, de Lages/SC. “Foi um trabalho diferente e que colaborou para plantar uma semente do futsal feminino naquela cidade. Mesmo se tornando nosso principal adversário nos últimos anos, me sinto bem pelo grande sucesso do Leoas na atualidade”, afirma Eder.

NOVO MOMENTO

Eder Popiolski retornou em 2016 para Chapecó e reassumiu o comando da Female Futsal, retomando uma etapa também vitoriosa nas quadras, com títulos de Libertadores, Taças Brasil, Campeonatos Catarinenses e Universitários. Contudo, as dificuldades externas foram crescendo a cada temporada. A queda de investimentos no projeto, a baixa visibilidade da modalidade, a estrutura inadequada para sediar grandes competições e a extinção da Liga Futsal Feminina, foram alguns dos obstáculos que colocaram em xeque a permanência do treinador na modalidade.

“Mais de uma dezena de atletas da nossa equipe se transferiram para a Europa nesses anos, pois a conjuntura daqui não apresentava mais a mesma motivação. Como nossa vertente é de formação, conseguimos nos manter competitivos, mas as condições foram tornando todo o processo desgastante”, relata Popiolski.

Após duas décadas de envolvimento intenso com a modalidade, para o treinador, chegou o momento de parar. De um ponto de vista geral, ele se diz realizado na carreira, não apenas pelos títulos conquistados, mas principalmente por ter contribuído com o crescimento pessoal e profissional das atletas e pelas amizades acumuladas ao longo dos anos.

“Estou parando e só tenho que agradecer a todos que contribuíram comigo. Aprendi muito e procurei incentivar as atletas para se tornarem competitivas e, acima de tudo, pessoas com ética. Grande parte do meu círculo de amigos veio através do esporte, então sou extremamente grato a quem, de uma forma ou outra, com maior ou menor participação, influenciou positivamente na minha vida”, reitera o treinador.

Sobre o futuro, Eder prefere não falar muito. Diz que passa por um momento familiar especial e que a atividade profissional demanda a necessidade de conciliar tranquilamente com função de um pai presente e participativo. “Estou vivendo uma nova fase com o nascimento do Augusto e da Martina. Eles precisam de atenção e minha família sempre será prioridade para minhas decisões”, finaliza.

Por: Leticia Sechini

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